sexta-feira, 25 de abril de 2014

E Se Fossemos Imortais? / "O Drink"

 Esta semana estava em um bar da Vl. Madalena, escrevendo para o Blog e curtindo a noite em um dos bairros mais gostosos da cidade de São Paulo, durante um gole e outro, um senhor alinhado sentou-se em minha mesa, educadamente pediu licença para conversar um pouco, não recusei a intromissão e tive a inciativa delicada de lhe oferecer um "DRINK", no qual ele tomou a liberdade de escolher. 

     Antes que eu quebrasse o gelo, ele adiantou-se, e sem cerimônias disse a que veio, disse que procurava além de boa companhia, alguém para fazer uma oferta, ou uma “proposta irrecusável”, sem contratos, dinheiro, nada ilícito e etc. mas, se tratava de algo irrecusável:


Senhor Alinhado: Estava eu a observá-lo, não só sua postura e o que se vê pôr fora, saiba que tive acesso a seus pensamentos...Sou um negociante diferente, não necessito de status, dinheiro, cheques ou cartão, o que lhe ofereço e a possibilidade de desfrutar da imortalidade, nunca ter doenças, não envelhecer, ter saúde revigorante, só poderá morrer em uma situação: SUICIDIO.
Eu: Mas, se isso fosse possível... Não que eu não esteja achando a conversa desinteressante, pois adoro ficção... Mas... Bom! vamos encarar como uma proposta de negócio, e como todo bom negócio, tem um custo?
Senhor Alinhado:  Há-há-ha... Se gostas tanto de ficção já deve imaginar que quero a sua alma, o que torna desnecessário dizer quem sou, não é... Sr. Norberto?
Eu: Só tem uma coisa, que não cabe em sua proposta, serei imortal, e nunca irei morrer, nunca terá minha alma, assim, você terá certo “prejuízo financeiro”.
Senhor Alinhado:  Encare como um investimento a “longo prazo”, Sr. Norberto, vou prazerosamente esperar... Pelo senhor... A propósito, tenho outros clientes a minha espera, só disponho de 15 minutos para o senhor.
Eu: Ok, tome mais um “Drink”, vou saber utilizar bem estes 15 minutos. Afinal ainda não tenho toda a eternidade também, Ainda!

     A Princípio a proposta era tentadora, garantias de sobreviver ao extremo, acompanhar o desenvolvimento da sociedade e poder contá-la como historiador e testemunha ocular dos fatos, ter tempo filosofar sobre o que eu quiser e para fazer tudo o que eu bem entender...

Mas, infelizmente a parte boa acabou ai.

     Se fossemos todos imortais, a nossa sociedade estaria em total estagnação, pois sempre as mesmas pessoas estariam no poder, com seus velhos bordões e visões da realidade. Fazendo com que as coisas permanecessem sempre na mesma esfera (Imaginem o Dr. Paulo Maluf disputando a sua 85° eleição).
a para conversar um pouco, não recusei a intromissão e tomei a liberdade de lhe oferecer um “Drink”, no qual ele tomou a liberdade de escolher.
     Na tecnologia não seria diferente, não haveria por que tantos avanços, já que determinadas tecnologias seriam o suficiente e não seria necessário reinventar nada. Nesse Sentido a morte nos obriga a fazer a vida valer a pena, inventar algo que faça com que sejamos lembrados, dessa forma, é necessário deixar um legado.
     No âmbito profissional a imortalidade se tornaria um fardo ainda mais pesado, as pessoas teriam que de tempos em tempos procurar algo novo para fazer, pois, seria tedioso. Assim você encontraria currículos mais ou menos assim: 55 anos como professor, 45 anos como aviador, 35 anos como Ginecologista e atualmente conclui a faculdade de Direito pela USP.
     Esse fator obrigaria os seres imortais a tirarem longas férias, para que possam se recompor e voltar as suas atividades, evitando stress, fadiga e tédio.
     Seria o fim de qualquer tipo de religião, já que todas elas tendem a levar as pessoas a um lugar de salvação, uma promessa, algo além do mundo físico, sobretudo quando se tem um caso de enfermidade.
     Casamento... Como sabemos o homem não foi feito para relacionamentos longos, já por isso ele tem como melhor amigo o cachorro, que morre em quatorze anos, seria muito difícil a convivência por muito tempo, quase inevitável as separações, provavelmente o Guines Book trabalharia para registrar o casamento mais duradouro ainda em consumação.
     Nossa memória também não daria conta de suportar tanta informação, assim, teríamos que fazer um backup de nossa vida, registrando momentos felizes e infelizes, para poder lembrar no futuro.

Mas, o pior ainda estava por vir....

     O crescimento populacional, já que ninguém morre, o planeta estaria cheio, seria necessário controle de natalidade, e para ter um filho alguém teria que deixar de viver. Além disso, os recursos do planeta terra ao contrário de nos se tornariam escassos, tornando a vida difícil, o que nos obrigaria a uma longa jornada espacial em busca de alimentos, e planetas que possam ser habitáveis.
     Por tudo isso, existiria uma câmara de suicídio, onde alguém troca a vida pelo nascimento de alguém (Vovô Oscar deixa a vida, para dar lugar ao pequeno Alfred, seu neto).

     Aliais, locais como esse seriam muito comuns, visando as angustias, depressões e tristezas, assim, chegaria um tempo em que a pessoa desistiria da vida, já que não teria mais nada de novo a alcançar, com certeza teríamos altos índices de suicídio.
     Por conta da monotonia. Logo, imaginei que desse modo, minha alma de alguma forma realmente um dia seria dele.

Fui acordado de meu transe parcial, pelo senhor alinhado:

Senhor Alinhado: Então meu rapaz, pelo brilho de seus olhos, deveras estar imaginando o lindo leque de possibilidades e oportunidades que vos espera, não é?

Eu: Na verdade não, e vou desapontá-lo, pois terei que recusar sua oferta, mas, até que sua presença não é de todo mal.

Senhor Alinhado:  Bem, não posso insistir, e uma das exigências para que eu possa dar bom andamento em meus serviços, mas, o que fez com que recusasse?

Eu: - Uma vida incerta pela frente, sonhos que quero realizar, dores que quero sofrer, decepções a superar, o gosto da surpresa e morrer desejando um suspiro de amor a mais. Certas coisas e sentimentos que sua proposta me tiram, e fariam de mim, um “Mero imortal”.

Raphael G. Norberto
In: raphaelnorberto.blogspot.com

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