segunda-feira, 19 de maio de 2014

A Cidade e o Mar!

 Meu dilema se anuncia sempre que ouço o barulho das ondas se quebrando, o canto de pássaros, ou vendo vegetações soçobrarem naquilo que chamam de chão.  Na verdade sinto náuseas quando me apoio em terra firme, dói minha alma atracar portos, não sou daqui... Pertenço ao mar!


 As sociedades me entontecem, por seus caminhos, campos e rotas, pessoas que navegam apressadas sempre pelos mesmos lugares, uma rotina que enlouquece e cria sonhos distorcidos. Pergunto se essa loucura que toma vagarosamente as pessoas exerce algum tipo de prazer. E se exerce, será ele tão vicioso que elas não percebem a sua escravidão?

   
 Suas embarcações e cabines de dormir que não se movem, altas edificações iluminadas, onde pessoas se aglomeram, moram uma acima da outra, ou não moram, quase se trombam, mas, não se veem, não se sentem e nada sentem, não há desprezo, indiferença, ódio ou rancor, simplesmente nada sentem. Estão envoltos de uma total solidão, uma mistura de pânico e medo, a todo o momento são visitadas por seus fantasmas pessoais. O ceticismo das cidades não se voltou apenas contra seus deuses e crenças, a ausência de fé está hoje contra o próprio ser humano.

 Chego já com saudade de minhas águas firmes, a meu Deus levanto as velas e peço que os anjos me soprem para lugares cada vez mais distantes daqui. 

 Não nego que eu não tenha meus fantasmas, como eu poderia. No mar também existem tormentas, tempestades e coisas inimagináveis. Já naufraguei, sofri e fiz muita gente chorar, já amei e me deixei amar ao longo de minha vida, e certamente o destino me pregará peças ainda piores. Porém, sou dono de meu leme e navego minha vida, tendo como bússola a minha alma. E não existirá piratas, sereias ou dragões que podem me impedir de ser feliz, e nada vai impedir que eu levante a minha âncora e parta. Fazendo com que meu coração navegue e voe por esse mar.
          
 Aos céus levanto os meus braços e de joelhos agradeço pela imagem da janela não ser sempre a mesma, é impossível viver assim. O mar me refugia em horizontes vazios. Aqui eu passarei a minha vida inteira. Nesse ponto também tenho como companheira a solidão, porém, essa é uma solidão sincera, e perante a falsidade do mundo, prefiro continuar ouvindo somente a minha própria voz. Esperando as luzes de outro porto,  desejando... temendo o que eu mais odeio.


Raphael G. Norberto
In: raphaelnorberto.blogspot.com

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